Na última semana, o Nubank anunciou mais uma aquisição, e bem estratégica: a startup de IA para bancos Hyperplane. Hoje vamos nos debruçar e aprofundar sobre ela.
TL;DR
Nubank adquiriu a Hyperplane startup de Inteligência Artificial para bancos
A aquisição compõe o quebra cabeça de fusões e aquisições do Banco, com mais uma aquisição estratégica de tecnologia
A aquisição também tira do mercado uma tecnologia que poderia ser estratégica para concorrentes e concentra esse diferencial no comprador
Na sessão premium conheça:
Como posicionar a sua empresa de forma a favorecer uma aquisição como fez a Hyperplane
O perfil de comprador do Nubank
O que é a Hyperplane?
Hyperplane é uma Startup que se propõe a habilitar instituições financeiras (mais especificamente bancos) a lançar experiências personalizadas ao consumidor através do uso de grandes modelos de linguagem, ou seja, da nova geração de modelos de inteligência artificial, como o que há por trás do ChatGPT.
A empresa oferece modelos de linguagem treináveis com os dados das insituições clientes (bancos) para interpretar o comportamento de seus consumidores para identificar propensão a adoção de novos produtos financeiros, prever risco de crédito, de perda de clientes e até de receita.
A empresa foi fundada em 2022 e rapidamente colocou produtos sofisticados de AI à disposição de grandes clientes.
O que sabemos sobre a estratégia de aquisições do Nubank
Já estudamos aqui em profundidade a primeira aquisição do Nubank e comentamos sobre algumas das que se seguiram. Vamos recapitular brevemente.
Em 2020, o Nubank adquiriu a Plataformatec, uma consultoria de tecnologia. O movimento, que identificamos como um Acqui-hire, visou reforçar seu time de tecnologia e a sua capacidade de execução usando metodologias ágeis.
Em seguida, adquiriu a Cognitech, também uma consultoria técnica criadora de tecnologias que o banco utilizava, como Clojure e Datomic.
Ainda no mesmo ano fez a primeira aquisição que viria a se tornar uma unidade de negócios, de investimentos: a Easyinvest. Este foi um movimento que classificamos como expansão horizontal.
Em 2021 o banco fez duas aquisições significativas estrategicamente. Uma delas, a Spinpay, também foi incorporada como uma nova linha de negócios, de pagamentos para varejistas, chamada NuPay.
A outra, Olivia, era uma assistente de gestão financeira, com interface conversacional. Essa aquisição tem relevância especial para entendermos este movimento mais recente, por dois motivos:
(i) A Olívia não foi incorporada como uma nova linha de negócio. Na verdade seu negócio foi descontinuado e o banco prometeu incorporar a tecnologia ao seu aplicativo. Os ex-consumidores da Olivia seguem frustrados com 3 anos de expectativas sobre esta integração. Mas quero me ater à estratégia. Esta foi uma compra de tecnologia, diferente das outras aquisições.
(ii) O Olívia tinha uma tencnologia conversacional utilizando inteligência artificial, muito antes da popularização dos LLMs (os grandes modelos de linguagem) que compõe a base da tecnologia da Hyperplane.
Como interpretar essa aquisição na estratégia do Nubank
O Nubank vem realizando aquisições de forma estratégica para montar um quebra-cabeça do que quer oferecer para o seu consumidor, seja como experiência, seja como novos produtos/linhas de negócio. A Hyperplane se encaixa perfeitamente nesta tese.
A empresa, que tem como clientes concorrentes do Nubank, não os continuará servindo e passará a atender exclusivamente o banco comprador. A empresa garante inclusive que o processo de integração da adquirida inclui apagar os dados dos bancos concorrentes.
Esta, portanto, foi mais uma aquisição de tecnologia, condizente com os movimentos anteriores. Mas tem uma pimentinha. De 2021 para cá, o hype em cima da AI, em especial por conta da exposição dada ao tema pelo ChatGPT e a nova tecnologia de modelos de linguagem que ele carrega, aumentou exponencialmente. Isso faz com que uma Hyperplane, para um banco, seja um alvo de aquisição mais quente que a Olívia foi lá atrás. Não só isso. Uma startup pode ter mais agilidade para dominar e adequar uma tecnologia como esta para o sistema bancário que um grande player. Mesmo o Nubank.
A Hyperplane escolheu um nicho concentrado em poucos grandes players, mas muito ricos. Não há muitas empresas com este posicionamento. O valor que ela pode agregar trazendo sua tecnologia para o Nubank, poderia ser perigoso para o banco nas mãos de um concorrente, digamos, laranja.
Esse movimento, tira defensivamente do mercado o acesso à tecnologia da startup, mesmo comercialmente, e deixa o Nubank passos a frente dos concorrentes no tema de IA generativa.
Análise do Deal
Não há dados públicos sobre o valor oferecido pelo Nubank. A companhia levantou um round Seed no final de 2023, de 6 milhões de dólares (cerca de 30 milhões de reais). Uma diluição típica para este estágio seria de 15 a 20%, o que avaliaria a empresa entre 30 e 40 milhões de dólares (150-200 milhões de reais). Entrando no terreno da especulação, digamos que a aquisição tenha sido na mesma ordem de grandeza de centenas de milhões de reais. O banco que faturou 8 bilhões de dólares em 2023 com um crescimento de aproximadamente 57% ano contra ano, e lucrou 1 bilhão de dólares com crescimento de quase 500% pode extrair retorno rapidamente se a startup trouxer para ele, e somente para ele, alguns dos benefícios que promete para seus clientes, como redução de inadimplência, churn, aumento de conversão etc.
Uma contribuição de menos de 1% para a receita do banco, faria com que essa aquisição se pague em menos de 4 anos, mesmo que ela tenha atingido um valor de R$ 1 bilhão.
Embora acredite que estes números estejam calculados precisamente nas planilhas de business case da equipe de M&A do Nubank, imagino que boa parte do sabor especial desta aquisição não esteja. Quanto vale tirar essa doce tecnologia da boca dos concorrentes?
Quanto vale uma experiência do consumidor empoderada por LLMs especializados e embasada em nos dados do banco?
Minha análise é de que este foi mais um movimento estratégico poderoso do banco. Talvez o melhor deles até agora. Uma excelente aquisição.
[Premium] Análise do Posicionamento da Startup para M&As
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